Qual o combustÃvel que te move?
- Karla Esteves
- 7 de abr. de 2020
- 4 min de leitura
Quando a vida te traz uma via de mão única, você sabe aproveitar a jornada com sua bela paisagem ou busca o retorno mais próximo para o conforto do conhecido?

Vivendo uma vida no inverno europeu com um quê de nômade é o meu destino certo de agora. Sentada na minha cama provisória e emprestada com muito carinho, reflito sobre o que me faz sentir vontade de viver. Pode parecer louco, mas os obstáculos que aparecem a cada esquina sem convite me trazem uma sensação boa de frio na barriga. Elas fazem meu carro sair do automático e assim vou trocando de marcha conforme vou sentindo os desafios, tristezas e alegrias no meu dia a dia.
Entre uma conversa sobre a vida e um gole de cerveja numa roda de amigos, percebo que tendemos a lembrar mais facilmente das tristezas e traumas do que dos momentos de alegria. O que não quer dizer que esses bons momentos tenham sido deletados da nossa memória, mas parece que a tristeza deixa uma marca mais profunda na nossa alma. Logo tendemos a lembrar mais rapidamente delas. Mas o lado bom é que sempre aprendemos algo diante de toda falta de luz no fim do túnel. Acho que na verdade precisamos passar por tudo isso para nos moldarmos e sermos quem viemos ser nesse mundo. Sim, eu acredito que tudo acontece por um motivo e cada escolha nos leva a um destino, mesmo que antes de chegarmos ao Caribe tenhamos que passar por alguns tornados.
Como possivelmente já deve ter acontecido com você, alguns desses tornados também já passaram pela minha vida. Às vezes rodopiando tão depressa que quase destrói minha base por completo. Como no dia em que a minha ficha caiu ao perceber que aquela pessoa que tanto amei e me entreguei, na verdade só me usou. Ou no processo de perdoar o coração partido por uma pessoa que um dia já foi meu herói.
Já outros desafios passaram pela minha vida como uma ventania de verão, só me fazendo acordar pra realidade. Como querer desistir da faculdade faltando um ano e meio pra terminar- ainda bem que não o fiz. Ou tomar a iniciativa de afastar amizades que me fazem mal, mesmo que de alguma forma eu ainda sinta carinho pela pessoa.
Entre os maiores obstáculos que já passei na vida, alguns me trouxeram de volta à realidade, enquanto outros me fizeram amadurecer. No meio do processo também renasci. Confiei no Universo. Acreditei em mim. Passei a dividir o mesmo corpo que a minha amiga coragem, mesmo na bela imperfeição de o sentir tremer e as mãos suarem de vez em quando. Mas com o passar dos dias, desistir passou a se tornar o verbo menos frequente do meu vocabulário.
Algumas coisas que me fizeram virar essa chavinha foram:
Seguir em frente sem desacelerar. Porque quando fazemos isso tendemos a prestar atenção em detalhes para usarmos como desculpas futuras. Detalhes esses que às vezes criamos na nossa cabeça, nos sabotando para não nos acharmos desistentes sem motivo aparente. Mas precisamos nos arriscar mais, não só com o objetivo de alcançarmos a linha de chegada, mas pelas lições que essa nova jornada vai trazer ao nos enriquecer com seus ensinamentos.
Praticar a gratidão. Mesmo quando as coisas não saem como o planejado, é importante agradecer pela experiência que você passou. Às vezes se perder da trilha significa encontrar uma cachoeira linda. Então pare de questionar tudo e siga com a mente aberta. Quando a gente agradece, o Universo retribui nosso abraço de confiança.
O sentimento de conquistar algo desejado. Esse é o ponto que mais mexeu comigo quando eu fiz minha primeira viagem internacional sozinha, para um paÃs que nem tinha o inglês como sua lÃngua nativa. Mesmo tendo estudado inglês quando mais nova, o sentimento era de puro medo. Medo de não saber me comunicar, de ninguém entender meu sotaque ou de me perder pelas ruas, já que meu celular estava por um fio naquela época. No final da viagem, deu tudo certo. Mesmo me perdendo duas vezes, naquela viagem acabei encontrando algo muito maior: minha coragem. Depois dela, sempre tento me lembrar que sou capaz de realizar tudo o que eu puder sonhar. Logo, aos poucos fui percebendo que aquele friozinho na barriga, ao mesmo tempo que me amedrontava, também me trazia um sentimento inexplicável de felicidade.
Depois de escrever tudo isso e parar pra analisar, só posso concordar com a Brené Brown e dizer que o que me move em tentar ser a minha melhor versão é a vulnerabilidade de sentir o medo. Ele é o combustÃvel para o meu próximo destino, pois sempre que chego na reta final, sinto que posso alcançar qualquer estrada inimaginável. Ao me ver numa corrida com ele sendo meu adversário, a sensação de vê-lo ficando para trás acaba se tornando de certa forma uma explosão de bons sentimentos.
Sentir medo não quer dizer algo negativo, mas sim que estou disposta a correr o risco de ver algo bom surgir, como também pode acontecer de não ser algo tão bom, mas a beleza está no mistério. Nos arriscamos quando entramos em um relacionamento, nos arriscamos quando mudamos de cidade, nos arriscamos quando deixamos a casa dos nossos pais. São riscos que podem continuar com o sentimento de final feliz ou ele pode acabar com nossos sentimentos sendo virados do avesso. Mas permanecer na inércia não fará as respostas surgirem como num passe um mágica. Então descubra qual o combustÃvel que te move e compre uma passagem só de ida para o seu destino incerto.